terça-feira, 27 de abril de 2010

A Questão da Felicidade e da Virtude segundo a Filosofia

Marcilio Reginaldo*

É conhecido que a construção da filosofia política se faz a partir do princípio aristotélico do animal político. O homem contempla a felicidade a partir de bens materiais e a eles são incorporados valores, principalmente sentimental, pois sendo apenas um objeto antes sem valor ele passa a satisfazer as necessidades humanas, assim nos remete lembrar o homem primitivo que vivia em grupos e suas necessidades se contemplavam na caça e na pesca tudo era dividido coletivamente numa convivência saudável sem intrigas ou individualismo, ou seja, as virtudes dentre elas: a temperança, a coragem, a justiça, eram desenvolvida transformando o homem num ser passível, bom e feliz. Mas do ponto de vista histórico as descobertas vai se confirmando e as necessidades de consumo antes “inexistente” passam a ser insubstituível, isto é, a cada dia lançamento são criados aumentando a vontade de possuir o que já se tem, gerando assim uma sociedade contraditória, individualista, pois não são toda as pessoas que podem participar ativamente do meio consumista, a realidade existente é: parte da população brasileira vive em péssimas condições de vida enquanto outros desfrutam de uma vida de prazer e até supérflua no sentido de consumir bens materiais exacerbadamente, o homem passou a pensar apenas no seu próprio bem ou felicidade sem se preocupar com o outro como diz Aristóteles (1979):

[...] entendemos a felicidade, considerando-a, além disso, a mais desejável de todas as coisas, sem contá-la como um bem entre outros. Se assim fizéssemos, é evidente que ela se tornaria mais desejável pela adição do menor bem que fosse, pois o que é acrescentado se torna um excesso de bens, e dos bens é sempre o maior o mais desejável. A felicidade, portanto, algo absoluto e auto-suficiente, sendo também a finalidade da ação (p.55).

A felicidade para o autor é o bem mais desejável de todas as coisas, concordamos com ele, mas essa felicidade se torna passageira atualmente, pois as pessoas são felizes momentaneamente, ou seja, quando elas conseguem o que estão desejando são felizes do contrário são infelizes ou não estão bem. Assim significa dizer que é a felicidade para ser absoluta é um tanto impossível, pois não conquistamos tudo que queremos apesar de sempre estarmos trilhando novos objetivos de vida que se alcançados satisfazem nosso ego e nos tornamos feliz por mais uma conquista, mas na sociedade que se vive o homem não está satisfeito com suas realizações, sua busca constante em se promover e adquiri reconhecimento dá lugar ao egoísmo e individualismo ao invés de ser as virtudes da solidariedade, justiça, a exemplo: se observamos essa idéia na prática iremos perceber que muitas pessoas tem várias ocupações e até empregos enquanto outros vivem anônimo no mercado de trabalho informal, isso parte de várias condições e oportunidades que uns tem e outros não, mas seguindo nessa visão de que a felicidade é alcançada através de bens materiais muitas pessoas se tornam infelizes e não vive bem, concordando com Aristóteles (1979):

O homem feliz vive bem e age bem, pois definimos praticamente a felicidade como uma espécie de boa vida e boa ação, as características que se costuma buscar na felicidade também parecem pertencer todas à definição que demos a ela. Com efeito, alguns identificam a felicidade com a virtude, outros com a sabedoria prática, outros com a sabedoria filosófica, outros com estas, ou uma destas, acompanhadas ou não de prazer; e outros ainda também incluem a prosperidade exterior (p.57).

Assim entendemos que no pensamento do autor o homem que é feliz vive bem e age bem, se partimos do ponto de vista que se ele é contemplado com o que ele buscou de objetivo ele é feliz se não é infeliz e por isso não vive em paz e não age bem com outras pessoas, já que o autor frisa que “a felicidade é como uma espécie de boa vida e boa ação”, ele também relata que a felicidade pode ser entendida e vivida de acordo com a definição das pessoas ela pode ser adquirida pelo prazer ou não, pode ser identificada com a virtude ou pela sabedoria prática, filosófica ou como colocamos através da prosperidade exterior e material.

Nesse sentido citamos a virtude da temperança que o homem tem que se desfazer dos excessos vícios e paixões, se torna difícil exercer essa virtude já que estamos numa sociedade consumista e repleta de prazeres assim como cada pessoa determina ou define a exemplo: muitas pessoas sentem prazer de ir a festas, consumir bebidas exagerada, comprar excessivamente, se torna complicado ser moderado e controlar essas chamadas “paixões”, como ressalta Aristóteles (1979): [...] uns tornam-se temperantes e calmos e, outros intemperantes e irascíveis [...] (p.68).

Assim entendemos que os vícios e desejos dominam o ser humano, fazendo com que o individuo fique aprisionado em objetos ou prazeres que podem trazer o bem ou o mal, seguindo a perspectiva do que pode ser bom para uns pode ser ruim para o outro ou vice versa. Os jovens em particular devem adotar a virtude da temperança, tentar a todo custo suprimir os desejos e prazeres, ou seja, se libertar dos excessos e tentar viver uma vida equilibrada, pois para viver feliz e bem não é preciso está envolvido apenas em eventos, consumir em exagero, mas o controle das vontades é importante, porque como visto parte da população não vive de forma igualitária desse meio de prazeres devido à falta de condições financeiras surgindo assim outras formas de se inserir a exemplo: muitos jovens, crianças e adultos se envolvem no mundo da criminalidade com o objetivo de possuir algo que antes não podia comprar por isso o ser humano não é perfeito, e sim falho e diferente, pois não pensamos igual a ninguém como diz Aristóteles (1979):

Numa palavra: as diferenças de caráter nascem de atividades semelhantes. É preciso, pois, atentar para qualidade dos atos que praticamos, porquanto da sua diferença se pode aquilatar a diferença de caracteres. Não é coisa de somenos que desde a nossa juventude nos habituemos desta ou daquela maneira. Tem pelo contrário, imensa importância, ou melhor: tudo depende disso (p.68).

Esse pensamento do autor pode compreender que nossos atos dependem da nossa educação, assim a família se torna a base de construção e formação como sujeito, mas não dispensamos que embora seja uma lar repleto de “felicidade” muitos jovens seguem o caminho da criminalidade, das drogas até mesmo pessoas que são de classe média e alta estão nesse patamar.

Mas como nada é perfeito e os prazeres e paixões podem também advir de dor como frisa Aristóteles (1979):

Se as virtudes dizem respeito a ações e paixões, e a cada ação e paixão é acompanhada de prazer ou de dor, também por esse motivo a virtude se relacionará com prazeres e dores [...] mas é em razão dos prazeres e dores que os homens se tornam maus, isto é, buscando-os ou evitando-os [...] por isso muitos chegam a definir as virtudes como certos estados de impassividade e repouso; não acertadamente, porém, por que exprimem de modo absoluto, sem dizer “como se deve”, “como não se deve”, “quando se deve ou não se deve” e as outras condições que se pode acrescentar (p.69).

Entendemos que os homens se tornam maus em razão dos prazeres e dores, mas se refletir-mos quando existe felicidade o homem se torna justo em praticar o bem para o próximo como diz Aristóteles ele vive bem e age bem, mas como na vida tudo não é perfeito as dores se tornam conseqüência de desprazeres vividos ou não por isso precisamos de coragem outra virtude importante que o ser humano precisa adquirir.

Na sociedade atual vivemos um dilema ter coragem para descobrir e denunciar as fraudes, corrupções é sinônimo de viver poucos dias, pois os detentores do capital dominam os mais fracos, isso porque é uma utopia alcançar-mos uma sociedade igualitária que todos tenham acesso as riquezas materiais e meios produtivos, sempre existirá os corajosos economicamente, politicamente, e os corajosos para trabalhar a serviço desse poder, a mentira na sua maior parte permanece, como se todos vivessem num “conto de fada”. Como cita Aristóteles (1979):

A temperança e a coragem, pois são destruídas pelo excesso e pela falta e preservada pela mediania. [...] é igualmente no que toca a coragem, pois é habituando-se a desprezar e arrostar coisas terríveis que nos tornarmos bravos, e depois de nos tornarmos tais, somos mais capazes de lhes fazer frente (p.69).

A coragem pode ser entendida como um ciclo, isto é, vem à coragem de se expressar e o medo das conseqüências que poderá acontecer, Por mais que algumas pessoas rompam com o tradicionalismo tanto de omitir fatos ou dizê-los publicamente mais as circunstancias advindas são mais importantes para serem pensadas ou nos prejuízos que poderiam acontecer para o declarante já que para ter coragem de falar algo que comprometa alguém precisa coragem maior para assumir e mostrar provas dessa verdade. Nessa visão a virtude dá justiça se faz presente o que seria um homem justo ou faz dele justo? Para Aristóteles (1979):

Por conseguinte, as ações são chamadas justas e temperantes quando são tais como as que praticaria o homem justo ou temperante; mas não é temperante o homem que as pratica, e sim o que as pratica tal como o fazem os justos e temperante. É acertado, pois, dizer que pela prática de atos justos se gera o homem justo, e pela prática de atos temperantes, o homem temperante; sem essa prática, ninguém teria sequer a possibilidade de tornar-se bom (p.71).

Como vivemos numa sociedade contraditória essa justiça ou o homem justo e bom poderá se concretizar se a fizer-mos, por um lado concordamos que temos que fazer justiça diante das injustiças, mas há contradições, pois, muitas vezes ela não depende da nossa sentença, mas das autoridades que podem julgar os crimes, por exemplo, com outro olhar, condenando ou absorvendo o réu, essa análise é entendida juridicamente, mas e as injustiças cotidianas? Com relação às políticas sociais na Saúde, Assistência social e Previdência, que o Estado direciona verba para atender as necessidades mínimas da população em situação de vulnerabilidade, mas com o avanço do capitalismo o Estado neoliberal restringe o direito dos cidadãos em desfrutar uma saúde de qualidade, educação, lazer: apresentando assim uma saúde pública sucateada, faltando infra-estrutura, e recursos materiais para ofertar o direito universal para todos, será que o Estado está sendo justo com a população que paga imposto e é cidadão de direito? Sponville (1995) salienta: “justo é o que é conforme a lei e que respeita a igualdade e o injusto o que é contrário a lei e o que falta com a igualdade” (p.72).

Em partes concordamos o que é justo é está contido na lei ou norma que rege a cidade, país, assim diz que todos somos iguais perante a lei, ou o homem e a mulher tem direitos democráticos na sociedade, podemos dizer que os fatos se contrapõem na prática, na primeira podemos falar sobre o preconceito contra negros, homossexuais, e no segundo a diferença imposta para as mulheres no sentido que elas não podem trabalhar fora de casa, ou em funções que o homem desempenha.

Seguindo esse pensamento é concordar que a lei é cumprida apenas para os crimes cometidos por pessoas que estão na classe inferiorizada socialmente, já que os grandes corruptos estão no poder e não são punidos como deveriam. Mas para se fazer justiça é preciso coragem, assumir a causa e seguir com o pensamento de desvendar as injustiças camufladas, concordando com Sponville (1995): “felizes os famintos de justiça que nunca serão saciados” (p.95). Embora as conseqüências sujam mais a justiça contida na verdade tem que prevalecer. Todo ser humano independente de classe social, raça tem que adotar o censo de justiça apesar dos diversificados pontos de vista, o que é justo para um pode ser injusto para outro ou o contrário,

Enfim as virtudes são importantes para o ser humano, pois ela passa a visão do que o homem se tornou ao longo da sua educação família ou cotidiana, já que não somos perfeitos e puros o contrário somo capazes de fazer-mos o bem ou o mau, isso reflete no contexto que estamos inseridos cheios de conflitos individualismo, vivemos sobre o comando do capitalismo/neoliberalismo que coloca em evidência as disputas e lugares sociais políticos e econômicos, deixando claro que permanece os detentores do chamado grande capital se concretizando a divisão de classes sociais, sendo a felicidade bem momentâneo que se configura de acordo com as paixões e necessidades ambiciosas do homem que ao invés de pensar no todo pensa em si e nos seus prazeres ou dores.

Referências:
ARISTOTELES, Ética a Nicômaco In: Coleção Os Pensadores, São Paulo: Abril Cultural (1979).
SPONVILLE, André Comte. Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Tradução Eduardo Brandão; São Paulo: Martins Fontes, 1995.

* Licenciado em Filosofia pela UERN.

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